Mercado de Commodities Reage à Escalada Comercial e Incertezas nos EUA.

Mercado de Commodities Reage à Escalada Comercial e Incertezas nos EUA.

Cenário Macroeconômico Global.

A semana no mercado internacional começou sob forte volatilidade, marcada pela continuidade do shutdown nos Estados Unidos e pelo avanço das tensões comerciais com a China. Os índices acionários norte-americanos, após baterem recordes na primeira metade da semana, operaram de forma irregular com a incerteza sobre a duração da paralisação do governo. O dólar, impulsionado pela percepção de risco, atingiu níveis próximos a 99,3 pontos, acumulando alta semanal próxima de 2%, maior desde 2013, impactando diretamente o custo de insumos agrícolas e de logística para exportações.

Enquanto isso, as bolsas asiáticas retornaram do feriado prolongado da Golden Week, com destaque para o Shanghai Composite, que registrou o maior nível em mais de uma década. O minério de ferro e o aço dispararam, refletindo o controle chinês sobre a exportação de tecnologia de produção de terras raras, reforçando o apetite global por ativos estratégicos, mas aumentando a tensão geopolítica e o risco de interrupção em cadeias de suprimentos globais.

Nos mercados de metais, ouro e prata seguem em forte alta, funcionando como refúgio em meio à escalada das incertezas econômicas e comerciais. A percepção de risco geopolítico elevou o metal amarelo a máximas históricas, consolidando sua função de proteção ampla.

Geopolítica e Guerra Comercial EUA–China

O cenário geopolítico tornou-se protagonista da semana, com as duas maiores economias do mundo escalando retaliações. A China impôs novas restrições à importação de chips norte-americanos, especialmente processadores de inteligência artificial, enquanto anunciou tarifas portuárias adicionais sobre navios de bandeira ou propriedade americana. Em contrapartida, os EUA confirmaram aumentos tarifários sobre embarcações chinesas e anunciaram sanções adicionais sobre softwares críticos de origem americana.

O impacto imediato para o mercado agrícola é a redução de compras chinesas de soja dos EUA, elevando a atenção do mercado para origens sul-americanas, especialmente Brasil e Argentina. A cobertura de demanda chinesa para novembro já está em 75%, limitando o espaço para novas originações dos EUA, com reflexos sobre a formação de estoques e sobre o flat price da soja em Chicago.

A escalada tarifária e a intensificação do shutdown americano mantêm o mercado em compasso de espera, com investidores avaliando continuamente os riscos de ruptura comercial e os efeitos sobre a colheita e exportação norte-americana.

Mercado de Grãos e Prêmios FOB

No cenário agrícola, os futuros da soja reagiram negativamente às tensões EUA–China, recuando mais de 16 pontos na CME ao longo da semana. O milho manteve-se relativamente estável, embora os basis nos EUA renovassem mínimas da temporada, refletindo a pressão da colheita e a cobertura de demanda externa limitada.

No Brasil, os prêmios FOB de soja em Paranaguá exibiram movimento firme, especialmente para embarques de novembro (+190 c/bu), refletindo a forte procura por origem brasileira no curto prazo. Em paralelo, os prêmios para farelo de soja demonstraram ligeira pressão descendente, com a oferta ainda impactada pela logística interna e menor disponibilidade para processamento. Exportações de soja para outubro foram estimadas em 7,12 milhões de toneladas, acima do ano anterior, enquanto farelo recuou para 1,92 milhão de toneladas. O milho segue com exportações projetadas levemente acima de 6 milhões de toneladas.

No segmento de óleos vegetais, o óleo de soja se valorizou, impulsionado pelo movimento altista do óleo de palma na Malásia e pela expectativa de aumento de demanda da Indonésia com a implementação do biodiesel B50 em 2026, que exigirá 5,3 milhões de toneladas adicionais de óleo de palma. A pressão sobre o spread para o óleo de soja reforça o suporte para os preços FOB Brasil e Argentina.

Clima e Andamento do Plantio no Brasil

O clima voltou a assumir papel determinante na dinâmica do mercado interno. No Centro-Oeste, modelos indicam retorno das chuvas entre 10 e 12 de outubro, com acumulados de 30 a 60 mm, mas a persistência de altas temperaturas limita o impacto efetivo das precipitações. Produtores relatam paralisação do plantio na BR-163, em Mato Grosso, há mais de uma semana. No Matopiba, as condições permanecem secas, retardando a semeadura e mantendo o avanço do plantio abaixo das expectativas sazonais.

No Sul, especialmente em Paraná e Rio Grande do Sul, o progresso do plantio depende da regularização das chuvas. Em áreas onde a precipitação foi suficiente, o avanço deve alcançar entre 35% e 40% nos próximos dias, embora regiões do norte do estado ainda aguardem condições ideais. As anomalias climáticas impactam diretamente o ritmo de plantio e, consequentemente, a oferta futura de soja, milho e farelo, influenciando a formação de preços e prêmios.

O Que Acompanhar na Próxima Semana

  • Estados Unidos: reabertura potencial do governo, divulgação de relatórios de oferta e demanda e início da temporada de balanços do terceiro trimestre, que poderá aumentar volatilidade nos mercados de grãos e metais.
  • China: monitoramento de compras de soja sul-americana e evolução das restrições comerciais sobre chips e tarifas portuárias. Qualquer sinal de retomada de compras norte-americanas será acompanhado de perto.
  • Brasil: evolução do clima no Centro-Oeste e Sul, avanço do plantio e impactos sobre prêmios FOB e basis; estimativa de embarques e demanda por farelo.
  • Mercados internacionais: movimento do dólar, preços de metais e petróleo, bem como volatilidade nas bolsas, refletindo risco geopolítico e política monetária.
  • Tensão EUA–China: novas rodadas de retaliações comerciais e tarifárias, com impacto direto sobre commodities agrícolas e cadeias globais de suprimentos.

Alan Henrique.

Alan Henrique

Alan Henrique é um especialista renomado no agronegócio, com mais de 10 anos de experiência em operações de commodities, mercado físico e operações na CBOT e B3. Ele compartilha seu conhecimento estratégico e visão de mercado para impulsionar o sucesso de empresas e profissionais do setor.

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